Nada será como antes ou apenas o futuro foi acelerado?
- Melissa Martins
- 30 de mai. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 11 de jun. de 2020
O Ensino Híbrido como um legado no pós-pandemia
"Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida."
Fernando Pessoa
Há muito tempo, a tecnologia vem mudando a forma como produzimos, consumimos, nos relacionamos e, até mesmo, como exercemos nossos trabalhos. Agora, este tempo de pandemia do COVID-19, traz a necessidade de uma transformação urgente na maneira como aprendemos e ensinamos, de maneira a remodelar a sociedade de forma duradoura. A pandemia, ninguém imaginava, nos trouxe um alto impacto que, de repente, mudou tudo. Neste ano de 2020, o isolamento passou a ser uma exigência social de sobrevivência, ao mesmo tempo os laços sociais e escolares precisaram ser estreitados, assim cresceu a importância dos modelos híbridos, da aula invertida com materiais mais que interessantes, em que cada estudante acompanha os conteúdos acadêmicos em tempos diferentes, depois realiza desafios individuais e em grupo de aplicação mais imediata, utilizando diversas plataformas digitais (como ClassApp, Zoom, ou utilizando a gamificação), com momentos off-line combinados com outros on-line para apresentação, discussão on-line e formas mais imediatas de avaliação. Infelizmente, muitos educadores e estudantes, aprenderam a utilização mais simplista, tradicional, e algumas vezes medíocre, da aula invertida, bastante conteudista e com atividades pouco estimulantes nos momentos on-line, tampouco desafiadoras.
Toda esta forma de ensino remoto foi um choque na educação, de repente nos vimos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com 1,4 milhão de estudantes no mundo todo, 8 milhões só no nosso país, parados em casa com aulas emergenciais. A escala e a velocidade dos fechamentos das instituições de ensinos (básico e superior) representam um desafio sem precedentes para o setor da educação.
Esta maneira peculiar de resposta da Educação, frente às restrições impostas pelo distanciamento social, por meio de medidas para prevenção e controle do COVID-19, associada ao entendimento historicamente adotado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), quanto a possibilidade de desenvolvimento de atividades escolares em outros ambientes pedagógicos e a autorização expressa da LDBN, no sentido de que, em situações emergenciais, o ensino a distância foi adotado, com as cautelas necessárias, ainda que em etapas da Educação Básica.
O grande problema de fundo, em face a nova realidade tecnológica do Brasil, é a desigualdade brutal e a diferença de oportunidades reais transformadoras para a maioria da população, falta da equidade necessária ao desenvolvimento real, justo e necessário. Muitas escolas, ofertaram atividades pedagógicas em regime especial domiciliar, realizadas pelos estudantes e, dependendo da faixa etária, também, pelas respectivas famílias, enquanto estiverem suspensas as aulas presenciais.
Como foi dada a autonomia dos sistemas, das escolas e universidades para cada uma decidir a manutenção do efetivo trabalho escolar ou acadêmico por meio de tecnologias digitais, corremos seriamente o risco de continuar aprofundando o fosso entre instituições que interessantes – mesmo com modelos diferentes – e muitas outras que vão ficando para trás, com muita dificuldade de sair da transmissão de conteúdo, exercícios e provas com consequências devastadoras para o futuro desses jovens e do nosso país.
As dificuldades de acesso à internet que muitos de nossos estudantes, bem como os professores têm; a diversidade da faixa etária atendida; a falta da cultura do hábito de estudo em casa, que inicialmente poderia comprometer o ensino a distância; a falta de condições das famílias em orientar os estudos dos filhos/estudantes; nem todos os profissionais da educação possuem formação adequada para o uso das tecnologias; estudantes com mais dificuldades no processo de aprendizagem, terem reforçadas tais dificuldades pela distância do ambiente escolar; e o aumento das diferenças que se acentuarão entre as diversas classes de estudantes que possuímos; todos estes pontos nos remetem às desigualdades que surgirão no pós-pandemia, não que este abismo já não existisse, mas que será cada vez mais evidente.
Ainda que em ano civil diverso, atípico e sem precedentes, nos termos da LDBN, devemos assegurar o estímulo ao uso de plataformas e tecnologias digitais, inclusive de natureza assistiva, destinadas a assegurar a manutenção das atividades pedagógicas ou o efetivo trabalho escolar enquanto durarem as medidas de restrição da mobilidade, destinadas à prevenção e enfrentamento à transmissão do COVID-19.
Medidas estas foram tomadas para reduzir os impactos a respeito da continuidade do processo ensino-aprendizagem, ainda que não possa se dar em sala de aula presencial, devendo assegurar o padrão mínimo de qualidade do serviço educacional, tanto nas atividades pedagógicas desenvolvidas por meio da utilização de tecnologias digitais, compreendido como direito do estudante e princípio da educação nacional.
As sugestões são diversas e oscilam entre ensino digital, ensino a distância, materiais físicos e a não tomada de decisões até que a pandemia passe e se reorganize o calendário escolar com as aulas presenciais. Uma boa leitura para ser o complemento que usa a inovação disruptiva para aprimorar a educação, é o livro Blended, de Michael B. Horn e Heather Staker, que abordam o Ensino Híbrido como a modalidade que mescla um ensino presencial com o virtual dentro e fora da escola; ambos acreditam que essa é uma das tendências mais importantes da educação de século XXI, uma nova realidade da educação brasileira no pós-pandemia.
Sabemos que, da forma em caráter de urgência e sem tempo ideal de implementação, qualquer caminho proposto não atenderá, de forma qualitativa, aos objetivos, especialmente porque NADA pode substituir a escola e a atuação do professor em sala de aula. Nem mesmo as melhores ferramentas tecnológicas, ou as que hoje, precisam ser adaptadas, são capazes de oportunizar os movimentos, debates, conflitos e aprendizagens que somente a escola pode oferecer. A respeito desta experiência como um todo, posso dizer também que a pandemia está impulsionando o surgimento de uma geração de novos aprendizes, formada por famílias, estudantes e educadores. Esse professor, que teve que foi desafiado a usar a tecnologia e se adaptou às novas formas de ensinar, não vai abrir mão dessa conquista tecnológica; essas famílias e estudantes, que se aproximaram, via educação, também não. Que esse seja, sim, um legado dessa pandemia, que todos possamos partilhar da concepção de que somente a educação pode nos tornar pessoas melhores, sendo importante ter foco, horizonte de tempo e não fazer grandes projeções, mas sim, trabalhar com cenários futuros possíveis em que as decisões atuais poderão vir a ser testadas mais adiante.
Desta forma, a educação não passará ilesa a esse processo, devendo intensificar, em um futuro bem mais próximo que imaginamos, o uso mais sofisticado, refinado e flexível da tecnologia. No ensino, será muito provável, que as aulas presenciais diferenciadas serão muito mais valorizadas no pós-pandemia, o Blended Learning, aprendizagem híbrida, aumentará consideravelmente, o ensino on-line será uma prioridade estratégica em todas as instituições educacionais e todas as parcerias com gestão de programas on-line deverão ser repensadas, isto é fato, de maneira a ampliar o ensino a distância (EaD) e fazer com que os sistemas educacionais sejam mais robustos, abertos e inovadores.

#PraCegoVer #PraTodosVerem Fotografia com uma mão segurando uma caneta esferográfica azul que está escrevendo num caderno pautado (com linhas) e com a outra mão, a pessoa segura um celular ligado e com a imagem de um professor, vestindo camiseta branca, dando aula, escrevendo numa lousa verde com giz branco.